
Muita gente admira e inveja as fatiotas dos seus ídolos de novelas, séries e programas televisivos sem fazer, contudo, a mais pequena ideia da máquina comercial que se instala por detrás dessas produções, relativamente a tais roupas. E não só! Acessórios, adereços como sofás, quadros e candeeiros, e até mobílias, também integram a cobiça e o negócio. Os telespectadores convertem-se, deste modo, numa espécie de telecompradores, não porque decidam recorrer às televendas, mas porque efetivam a aquisição de estilos e até de cenários que os foram acompanhando durante algum tempo.
Por dez euros, os adolescentes podem adquirir camisolas parecidas com as dos seus atores preferidos ou t-shirts como as que os elementos das bandas juvenis da berra usam nos concertos. Tudo se processa da seguinte forma: os figurinistas criam ou propõem um estilo, que os atores transformam numa moda, a que os segmentos-alvo aderem, aproveitando, então, as empresas que detêm o guarda-roupa o ensejo para fazer mercancia. É uma forma de a empresa produtora tentar reaver algum do investimento em figurinos (que não é coisa de pouca monta, nomeadamente no inverno, em que as coleções são maiores e a roupa mais cara).
Não há dúvida que o acordo é proveitoso para ambas as partes. As marcas, à partida, recuperam várias vezes mais o que investem em retorno de publicidade. Com efeito, o impacto visual em televisão é muito superior ao dos desfiles. Por outro lado, está provado que a atitude e os bons figurinos são garantia de sucesso das obras televisivas.
Embora o figurinista dê azo à sua imaginação para fazer moda, não pode jamais descurar a criação de propostas de acordo com o perfil da personagem, seguindo, naturalmente, as novas tendências de moda. Esta responsabilidade cresce com o sucesso das produções em causa. Neste âmbito, há pormenores suscetíveis de marcar a diferença.
Os psicólogos, por seu turno, mostram preocupação com a perda da individualidade. Efetivamente, a inclinação para imitar quem tem sucesso é natural, mas a imitação acaba por ser redutora e não permitir a expansão da criatividade, podendo até anular os próprios gostos. Porque é que as pessoas se conformam de maneira incontestada com os padrões que uns poucos definem para a moda social? Trata-se de uma formatação aceite que, no caso da infância e da adolescência, se pode revelar castradora do desenvolvimento pessoal. De facto, a juventude é mais permeável a estes modelos, que lhes são mais impostos do que propostos, num altura em que a individualidade devia ser trabalhada em ordem à descoberta da própria identidade e do equilíbrio.