rua-direita rua-direita publicou: A moda do telemóvel
A maior parte de nós não tem noção da dependência que patenteia relativamente à tecnologia. Acções do dia-a-dia, como enviar uma mensagem ou conferir a existência de correio no e-mail de cinco em cinco minutos tornaram-se tão naturais que já não se lhes dá importância nem reparo. A Internet e os telemóveis lideram o ranking desta servidão. Trata-se, muitas vezes, de um distúrbio psicológico a que não é dada a devida atenção. É claro que para tal diagnóstico não se baseia apenas do número de horas dispendidas com os aparelhos, mas normalmente há todo um conjunto de atitudes paralelas que evocam patologia.

Estudos efectuados por institutos de ensino superior atestam que mais de 50 por cento dos alunos têm o telemóvel ligado na escola, sendo que a maior parte, cerca de dois terços, afirma que o aparelho só lhe é útil se estiver ligado ininterruptamente, e outra parcela admite nunca o desligar ou retirar o som, mesmo em velórios, missas, funerais e consultas médicas.

Actualmente, é exigido aos jovens, desde tenra idade, que se mantenham constantemente em contacto, e se algo falha a nível do engenho ou da rede, instala-se o caos e o fim do mundo parece iminente. O contacto em permanência não é sinónimo de dependência; constitui, antes, uma mediação que responde à necessidade de comunicar.

A moda do telemóvel não se refere somente a andar com ele para todo o lado, mas a trocá-lo sistematicamente, não porque o antigo se tenha estragado, mas porque o novo oferece funcionalidades diferentes e mais apelativas. A dependência afectiva do telemóvel reveste-se, também, de um carácter fashion… Para além de prático, com a possibilidade de ser utilizado como leitor de MP3, máquina fotográfica e de filmar e software de processamento de texto e acesso à Internet.

McLuhan, teórico de comunicação canadiano, declara que as tecnologias são uma «extensão do Homem», funcionando como um meio de interacção deste com a realidade que o envolve. Não obstante, apesar dos incomensuráveis benefícios, tudo o que é em excesso não pode trazer apenas regalias. Onde ficam a leitura e o convívio mais convencional? Até os namoros se processam com recurso a SMS, e a arte da sedução já se serve das mensagens escritas para marcar encontros amorosos com as pessoas visadas.

As campanhas promocionais das operadoras móveis assentam, em grande medida, em elevadíssimas taxas de penetração do telemóvel, em alguns casos acima dos 100 por cento, e na tendência de crescimento da sua utilização. A pressão social tem aqui, igualmente, uma palavra a dizer: o facto de toda a gente ter um telemóvel leva a que quem não o tem se sinta um “bicho raro”. A exclusão, ainda que tecnológica é difícil de gerir…