rua-direita rua-direita publicou: Epilepsia
A epilepsia é uma doença em que se verificam descargas eléctricas anormais no cérebro, de forma localizada ou difusa, dando origem a crises parciais ou generalizadas (se atingirem os dois hemisférios cerebrais), que provoca uma convulsão repentina, com ou sem perda de consciência. Normalmente, estas alterações têm a duração de alguns segundos a poucos minutos.

Pode tratar-se de uma crise de “ausência” (aparentando o doente ter ficado distante de repente, recuperando depois do ponto em que tinha parado), de uma crise parcial simples (quando acontecem somente variações na percepção auditiva ou visual do paciente, sensação súbita de medo, movimentos estranhos e involuntários de uma parte do corpo, desconforto no estômago), ou de uma crise complexa (se se verificar perda de consciência acompanhada de queda com o corpo rígido, cujas extremidades se contraem e tremem).

A epilepsia, que tem mais de trinta subtipos, caracteriza-se por crises epilépticas reiteradas e não é contagiosa. No decurso dos episódios epilépticos, o indivíduo pode aparentar confusão, incoerência no que diz, caminhar sem destino, assim como salivar em demasia, morder a língua e efectuar acções repetitivas, como puxar a roupa ou virar a cabeça de um lado para o outro. Paralelamente, é possível que manifeste medo, insegurança, cansaço físico e mental e perda de memória, como pode não sentir nada e nem se lembrar do que ocorreu. Retomado o equilíbrio da actividade cerebral, há doentes que têm condições para retomar o que estavam a fazer e outros são limitados pelas dores de cabeça e mal-estar.

Qualquer um pode experimentar uma crise de epilepsia, na sequência de um choque eléctrico, uma insuficiência de oxigénio, um traumatismo craniano, uma descida do açúcar no sangue (hipoglicemia), privação do álcool, abuso de drogas ilícitas, etcétera. Uma crise isolada não significa que se sofre de epilepsia!

São apontadas muitas causas possíveis para a epilepsia, que englobam lesões cerebrais (decorrentes de um acidente ou um AVC, por exemplo), tumor, infecção, meningite, traumatismo de parto e, com menor frequência, o factor genético.

As crises epilépticas podem ser desencadeadas por alterações repentinas da intensidade luminosa (televisão, jogos de computador, discotecas), febre, cansaço, consumo de álcool, drogas e medicamentos, privação do sono, ansiedade, determinados ruídos, leitura prolongada, certos ingredientes alimentares (que podem interferir com o efeito dos princípios activos dos anti-epilépticos).

Diante de uma crise, deve proteger-se a cabeça da vítima e retirar tudo o que à sua volta possa magoar. Aliviar a roupa, sobretudo em torno do pescoço e da cintura. Colocar a pessoa em posição lateral, para que a saliva saia e não haja engasgamento nem dificuldade de respirar. Manter o epiléptico em repouso no fim da convulsão.

Ter presença de espírito e calma é essencial. Se o ataque se prolongar por mais de cinco minutos, a pessoa não voltar a si ou for diabética, estiver grávida, doente ou se ferir, há que chamar uma ambulância. NUNCA obrigar o doente a beber água nem sequer deitar-lha para cima. Não o agarrar para o aguentar quieto nem dar-lhe bofetadas para o acordar.

A epilepsia pode ter início em qualquer idade, mas é mais habitual até aos 25 e depois dos 65 anos. Constata-se, igualmente, uma diferença subtil entre os sexos: há mais homens do que mulheres a padecer desta enfermidade. Em inúmeros casos, sobretudo na infância e na adolescência, pior do que a epilepsia em si é o estigma social a que estão sujeitos estes pacientes. Por razões certamente distintas das da Antiguidade, em que chegou a ser encarada como algo demoníaco e divino, a epilepsia continua a ser vista como algo limitante e esquisito. Certamente que a ignorância e a impressão que as crises generalizadas provocam têm uma palavra a dizer neste contexto.

Um diagnóstico feito precocemente permite a definição de um tratamento adequado e o trabalho de aspectos psico-sociais indispensáveis à reintegração do doente no seio da família, da escola, do trabalho, da sociedade.

Ao contrário do que se possa pensar, muitas figuras públicas do passado e do presente sofreram e sofrem de epilepsia: o rei Saúl, de que fala a Bíblia; Alexandre, o Grande; Alfred Nobel (criador do Prémio Nobel), que se supõe tenha sofrido de epilepsia desde a infância); Fiódor Dostoievski, escritor russo (as crises começaram a manifestar-se aos 25 anos. Os ataques perduraram até à sua morte, aos 60 anos. Nestes 35 anos, o escritor teve cerca de 400 crises convulsivas, que eram sucedidas de confusão mental, depressão e distúrbios temporários de fala e de memória); Gustave Flaubert, escritor francês, autor de Madame Bovary; Napoleão Bonaparte (imperador francês); Richard Burton, actor inglês; Sócrates (o filósofo…); Van Gogh, pintor holandês; Lenin, revolucionário russo; Eric Clapton, guitarrista (que dispensa apresentações), e muitos outros.

Como complemento ao tratamento médico, levar uma vida o mais saudável possível só tem consequências benéficas no que respeita à epilepsia. Uma alimentação equilibrada, descanso adequado, diminuição do stress e da depressão, assim como a recusa de álcool e drogas, ou outras substâncias tóxicas, constituem auxiliares preciosos dos efeitos das terapêuticas administradas.