rua-direita rua-direita publicou: A sexualidade na adolescência
Muito se tem falado, nos últimos tempos, da Educação Sexual que deve ser ministrada na escola como disciplina obrigatória, e a polémica a este respeito vem atulhando inúmeros noticiários e servido de arma de arremesso político. Porém, parece que ninguém ainda percebeu muito bem do que é que, afinal, se trata ou deve tratar.

De facto, a sexualidade tem de ser entendida como algo que vai imensamente além dos comportamentos sexuais. Se é para explanar os aparelhos reprodutores e os aspetos fisiológicos, não é preciso criar mais uma matéria para estudar: a Biologia já dá resposta a essas questões. Falta, contudo, explorar outras, complementares e, porventura, mais relevantes. Na realidade, ser-se sexuado(a) significa possuir uma integração indissociável de fatores biológicos, psicológicos e culturais. Portanto, sendo a sexualidade multidimensional, a sua abordagem tem, necessariamente, de ser transversal.

Aquilo que presentemente é proposto para ensinar às crianças não apresenta consensualidade entre os pedopsiquiatras e pedagogos. Para além da flexibilidade e das possíveis variações no currículo–base que defendem, tendo em conta a sensibilidade dos pais e o contexto da comunidade em que estão inseridas as famílias, mostram-se ainda a favor de alguma heterogeneidade e, acima de tudo, de um extremo cuidado para não ferir suscetibilidades, como pode acontecer com determinadas imagens nos correntes manuais. Paralelamente, no seio médico há quem advogue a criação de novos guias em que temas como o álcool, as drogas, a violência e a alimentação sejam incluídos.

As relações intrafamiliares, à semelhança das atitudes e comportamentos perante a sexualidade, mudaram bastante nas últimas décadas, e é importante perceber os reflexos dessas mudanças na vida das crianças e adolescentes. Cada vez mais, a educação sexual não se refere, na essência, à transmissão de conhecimentos, mas deve basear-se em atitudes (de preferência, coerentes), industriadas pelos pais e professores e pela escola, em uníssono.

Não vale a pena andar a tentar “passar a batata quente”, alegando que a educação sexual é algo alheio à escola, ou procurar especialistas (que atuariam no sistema educativo, mas de fora). Sendo que as dimensões afetiva e sexual fazem parte da formação integral da pessoa, a Educação Sexual deve ser integrada no currículo, mas de forma prudente e sensata, relacionando o corpo do rapaz e da rapariga com os sentimentos e as emoções, a autoimagem e a imagem do outro, e o sentido de responsabilidade. E, já agora, dando conta de realidades (quiçá com menores probabilidades de reivindicação nas manifestações de estudantes em prol da implementação da tão reclamada matéria), como a mutilação genital feminina, a sexualidade associada à deficiência e o drama dos abusos sexuais.