
A necessidade de comunicar é intrínseca ao próprio ser humano. Existe desde sempre e continuará a existir enquanto ele (nós) for(mos) regido(s) pela natureza que o (nos) define. Com efeito, primeiro com o corpo, depois com os desenhos e a escrita, agora com a Informática, a evolução do ato de comunicar tem sido uma constante, distinguindo-nos nós dos nossos antepassados fundamentalmente pelo grau de complexidade das técnicas utilizadas e pelo crescente número de destinatários das mensagens.
O recurso a um determinado instrumento transforma, de certa forma, o seu usuário. Atente-se nas novas modalidades de informação e de comunicação que o telefone, a rádio e a televisão vieram trazer. Do mesmo modo, o computador, ao facultar a comunicação entre pessoas espalhadas pelos quatro cantos do mundo, promoveu transformações sociais (e dos estilos de vida) e o aparecimento de um novo conceito de comunidade humana.
É polémica a tese que advoga que vivemos, atualmente, numa sociedade do conhecimento, porque há quem defenda que informação não é sinónimo de conhecimento, que nem todos constam desta sociedade e que a comunicação é controlada por sistemas de técnicas interativas, mormente pela Internet. Não obstante, parece claro e universalmente aceite que a construção da sociedade em que nos movemos foi amplamente influenciada pelo progresso no domínio das telecomunicações e da informática.
A questão é que o ser humano se confunde, cada vez mais, com a tecnologia, deixando de se ter a exata noção de onde começa um e acaba outro, ou do que é distintivo de um e outro. Já Einstein alertava para as ameaças da bomba atómica, da bomba demográfica e da bomba informática. Parece que desta última resultou uma metamorfose na essência da Humanidade, estando a delinear-se uma nova era: a do Homo Digitalis.
Na verdade, já é possível fazer quase tudo por computador: trabalhar, estudar, divertir-se, consultar, comprar, conviver, … É o que se poderia apelidar de “a volta ao mundo em pantufas”, dado que tudo isto está à distância de um clique, sem ser preciso sair de casa.
Um dos perigos pode ser, precisamente, o isolamento, com a fundamentação da vida numa ilusória mudança de personagens que o próprio indivíduo constrói e nas quais acredita e deseja incarnar. Isto é facilitado pela ausência de contacto direto, que permitiria a avaliação de expressões não verbais relevantes à complementação do processo de comunicação. Chega-se ao paradoxo de se comunicar através de instrumentos (como o computador) que têm enfraquecido a comunicação!
As novas tecnologias de informação não possuem um cariz meramente utilitário; elas apresentam implicações éticas e pedagógicas pelo facto de representarem um meio de experiência do mundo. Portanto, com tudo o que de fantástico esse avanço trouxe, há receios legítimos acerca de eventuais consequências negativas da circulação de tanta informação não controlada. Aconselha o bom senso que se tomem precauções na abordagem das tecnologias, principalmente no que respeita à Internet, e que se contenha a euforia, promotora de danos irreparáveis. Trata-se de instrumentos, nada mais!