rua-direita rua-direita publicou: Quem não quer uma festa
Para muita gente, qualquer pequeno acontecimento é tido como um evento e, como tal, motivo de comemoração. No entender de outros, evento será um episódio pontual, de grande relevância, inesquecível e, quiçá, irrepetível, como por exemplo o casamento, o Baptismo de um filho, uma participação televisiva ou cinematográfica, a construção ou compra da casa dos seus sonhos, a conquista do primeiro prémio, a título exclusivo, do Euromilhões, etcétera. Nos dias que correm, até já há quem queira fazer festa por ocasião do próprio divórcio! Pouco deve faltar para que se organize um requintado banquete para o enterro de algum familiar, digamos, menos apreciado no seio da parentela…
Devia ser com medo disto que um homem, estando doente às portas da morte, respondeu ao médico que queria ser sepultado no mar porque a sogra havia jurado várias vezes que dançaria sobre o seu túmulo…! Lá teve a senhora de aprender mergulho…

Normalmente, as pessoas de classes sociais mais baixas, em termos económicos e culturais, vêem os eventos como uma realidade exclusiva da fatia da população rica e sofisticada. Contudo, tal ideia não passa de um mito sem fundamento, e a inveja ou o sentimento de inferioridade em nada abonam a favor da valorização daquilo que para cada um são os verdadeiros eventos. E, depois, basta olhar para as figuras tristes de algumas “celebridades”, a desviar croquetes e rissóis de mesas bem compostas e requintadas para lhes servirem de almoço no dia seguinte! Isto é que é charme… Às vezes, é mesmo melhor ser-se anónimo; pelo menos, poucos notarão as nossas falhas, porque sobre nós recairão apenas os olhares de quem se encontrar nas imediações. De que serve pegar em mini-salgadinhos e introduzi-los numa boca semi-cerrada (é falta de educação abrir muito a cavidade bucal para introduzir os alimentos, que se querem de tamanho reduzido), se logo a seguir se dá consistência a uma “maxi-vergonha”, açambarcando para a marmita?!

É claro que nas revistas “cor-de-rosa” figuram somente as ocorrências de maior glamour.
Todavia, nem sempre por nobres razões. As figuras públicas aparecem amiúde enxovalhadas e os pormenores sublinhados dizem respeito a gafes, tropeções (quer nalgum degrau, quer na língua-mãe, quer na própria ignorância), relações amorosas e coscuvilhices de todas as espécies. Para além disso, as poses registadas podem não ser favoráveis ou comprometer mesmo a imagem da individualidade em questão.
Entretanto, é tempo de explicações e justificações, bem como da perseguição de jornalistas a grassar como cogumelos, com o intuito de colher o conteúdo das declarações em primeira-mão e a foto mais perfeita (para o fim pretendido, bem visto, porque há fotografias para todos os propósitos…). É ou não preferível ser-se um ilustre desconhecido nestas coisas?