
É muito comum ver-se a pedinchice constante de alguns animais de estimação. Cães e gatos desenvolvem um “marketing” muito próprio para conseguir aquilo que querem, à semelhança das estratégias levadas a cabo pelas crianças. É claro que eles não reclamam coleiras com diamantes, camas bordadas a ouro, transportadoras Loius Vuitton, ou outros produtos de luxo (e irracionalidade, diga-se de passagem) oferecidos por uma indústria multimilionária. Aliás, nem todos os cães têm a sorte de nascer nos Estados Unidos, onde, de vez em quando, há alguém que, por senilidade, descrença total nos humanos, ou seja lá pelo que for, lega uma herança choruda ao seu amigo de quatro patas….
Não obstante, torna-se muito desagradável e aborrecido ter o próprio cão a pedir isto ou aquilo em permanência, nomeadamente na altura das refeições, quando ele se acha no direito de provar ou, quiçá, até deliciar-se com uma porção do manjar dos donos. A ansiedade do bicho não é coisa fácil de suportar, e, perante a presença de visitas, converte-se em embaraço. Todavia, a nossa comida não é adequada para o aparelho digestivo do animal, e as gorduras e os temperos podem mesmo causar-lhe sérios danos. Há cães que ficam diabéticos, cegos e a maioria morre precocemente, à conta destes (maus) hábitos.
Paralelamente, ceder aos caprichos do cão uma vez, no entendimento dele, significa, por um lado, que irá lograr o que deseja em todas as ocasiões (basicamente, o cão não compreende porque é que umas vezes pode receber e outras não), e, por outro, que é ele quem manda, o líder, porque lhe satisfazem sempre as venetas. Este facto pode originar agressividade no bicho quando a sua vontade não for cumprida, ainda que não se trate de um cão possante e violento. Na prática, um animal destes sente que não só pode fazer aquilo que lhe apetece, como todos lá em casa (que ele vê como a sua matilha) têm de concretizar os seus pedidos. A agressão será, então, a maneira de forçar a resposta às suas exigências.
Educar os cães desde pequeninos é fundamental. Nesta perspetiva, não é sensato que eles partilhem a cama com os donos, entrem primeiro em casa, comam primeiro, andem sempre ao colo, … Todos estes comportamentos levam o cão a sentir-se igual ou superior ao dono, hierarquicamente falando. Estabelecer as regras desta hierarquia é essencial para a segurança do animal e para o bem-estar de cão e dono(s). Educação não é sinónimo de castigo e há que ter consciência da necessidade do treino do bicho e de lhe impor limites que o façam perceber, sem cenas deploráveis, o lugar de cada um.
A disciplina não compromete em nada o amor pelos animais; pelo contrário,
proporciona um convívio harmonioso e uma maior felicidade para todos.
Treinar para deitar, sentar e ficar é o básico. E deveras útil quando se está a comer… Dar uma recompensa (em carinho, alguma gulodice, …) quando o cão obedecer a uma ordem, funciona como estímulo e ensina-o a merecer o que pede. O que não se pode permitir é que ele se empine na mesa, que vá dando patadinhas ou arranhões para chamar a atenção e pedir comida e, muito menos, que se sente à mesa com os donos. Especialmente os cães grandes, dominadores e com temperamentos fortes, tentarão, invariavelmente, obter algo mais do que o que já alcançaram.
Os cães são pedinchões (de guloseimas, brincadeira, …) porque recebem ao pedir. Se esta tendência for contrariada, os bichos assimilarão outros ritmos, valores e conceitos. O «Não!», dito com firmeza, pode, inclusive, impedir que o seu cão se torne um perigo público!