“Viajar! Perder países!”
Falar de países, lugares, situações, lembranças, momentos, terras, aspirações, objectivos, mágoas ou frustrações… é tudo a mesma coisa. Todos podem ser os tais “países” de que Pessoa fala, no seu poema. E, muitas vezes, são mesmo.
Senão, vejamos. Estamos sentados no nosso sofá, a ver notícias no televisor e depressa sabemos o que se está a passar, no outro lado do mundo, ou no outro lado da rua. Saímos para uma caminhada e os temas da nossa vida vêm connosco, quer sejam questões que temos para resolver, memórias que se avivam na nossa mente, talvez despertadas por um som, uma imagem ou um cheiro. Podemos ser “assaltados” pela saudade de algum lugar ou de alguém… e essa saudade pode apertar mais o coração, se se tratar de um lugar que já não existe ou de alguém que já não volta… Podemos ir de carro, a ouvir rádio, e sermos transportados no tempo, para a altura em que essa canção tocava com mais frequência e o nosso dia a dia corria com outros ritmos e outras atividades, por outras paragens. Ou podemos ser transportados para outros países e lugares, independentemente do rumo que estamos a seguir, no carro, através de sons e palavras que nos cheguem pelo rádio. E nos transportes, a caminho do emprego, podemos viajar ao folhear uma revista ou um jornal. Podemos ser catapultados para um país estrangeiro, se escutarmos alguém a falar numa língua que não a nossa, ou se essa pessoa até vier pedir-nos algumas indicações e informações. Às vezes, basta até um sotaque, para sermos transportados para outro país, ou outra região do nosso.
Eu, que sempre gostei mais de estar e de ficar do que de sair, também já viajei muito mais do que estava à espera, afinal. Viajei de todas as formas: pelas histórias que ouvi, pelas experiências que vivi, pelos livros que li, pelas pessoas que passaram pela minha vida, pelas sensações, lembranças, histórias e canções que tive e escutei, parado ou em viagens, caminhando, conduzindo, sendo transportado até ao outro lado da vila ou até a meio do Atlântico, por objetivos e planos, por vitórias e frustrações, pelo passado e pelo futuro… Todos os dias viajo. Constantemente perco países. A toda a hora carimbo o passaporte da minha vida!