Crianças presas em casa sem poderem brincar na rua
Brincar na rua sem a supervisão atenta de adultos é algo cada vez mais raro, e o recreio da escola é onde, amiúde, esta experiência se consegue fazer de forma livre. Nem para a escola ou para outras atividades as crianças já podem ir sozinhas! Esta circunscrição exagerada está a fazer com que os miúdos deixem de ser miúdos, pois sem espontaneidade não se é capaz de ser criança. Não é possível viver uma infância programada e inventada por gente tão crescida que perdeu a capacidade de perceber que hoje em dia também há meninez! É contra-natura…
Deste modo, por muito bem que queiram aos filhos, o que os pais fazem é comprometer o seu desenvolvimento e promover um autêntico “analfabetismo motor”. Desabituados de correr, quando o efetivam os miúdos chocam entre si de maneira absurda. Isto decorre da diminuição da perceção e, em diversas situações, do peso em demasia que a letargia a que são condenados produz. A identidade da meninice não de compadece com o conceito de uma mente ativa num corpo que não é autorizado a mexer-se! Onde está o contacto com a Natureza e com os animais, tão importantes no processo de crescimento? Ir à aventura, descobrir, inventar são ideias crescentemente teóricas. Esquecemo-nos, porém, que o tempo de brincar e as próprias brincadeiras são instrumentos fundamentais de aprendizagem e adaptação a situações imprevistas de cariz motor, social e emocional na vida adulta. Brincar é, portanto, aprender a viver.
As crianças são, com frequência, vistas como adultos em miniatura, mas não é justo que expectativas sobre elas criadas e orgulhos pessoais dos pais e familiares em determinados desempenhos delas lhes tirem o direito a desfrutar da única etapa da vida em que não devem ter preocupações nem sentir-se oprimidas, e lhes ocupem o tempo que lhes pertence para fazerem o que lhes apetece com coisas de que nem gostam. De contrário, há matéria mais do que suficiente para escrever um livro ou um argumento de um filme intitulado: «Infância roubada», pois, na prática, é isso que acontece.