Como dar a volta ao mundo sem sair do mesmo sítio
Umas horas antes o motivo do protesto já havia apanhado o avião para fazer uma visita de estudo a um desses países em que é normal corromper-se as almas por meia dúzia de tostões. Enquanto isso o clone aparecia nas filmagens, defendendo mais alguém que afinal não ficaria assim tão podre, perdão queria dizer pobre.
As pessoas protestam enquanto pensam naquele exemplo do caneco em que os corruptos foram presos pelos sucessores, outros ainda num episódio do Star Trek em que por força de campos magnéticos as dimensões cruzavam-se, sendo que o comandante ia parar àquela em que para se subir na hierarquia tinha que se matar o superior. Outros apenas se irritavam por aquele ar de desprezo de quem cospe para cima de quem não lhe dê o cu com o fruto do seu suor.
As pessoas fartaram-se de ser apelidadas de amorfas, das comparações com frutas podres e de ter de usar vaselina a toda a hora para que o grande líder se fosse satisfazer quando quisesse. Um exagero, parece que afinal todos se viraram para ele e acabou-se o festim negro.
E se a Terra parar de girar e os corruptos caírem no seu núcleo, é provável que não aguentem os milhares de graus, apesar de toda a influência e dos que ainda votam porque o senhor é bonito e a língua debita palavras que excitam o sub-consciente.
A música deixou de ser natural, apesar do pastor entrar numa nova remix e de os tubos de escape deitarem fumo negro que inspiram o improvisador. Uma dose de erva e o cúmulo da paciência pode ser que se altere. Felizmente que os mandaremos a todos para o núcleo da Terra e que nem as memórias dos festins negros restarão.
A polícia lança rosas para o ar, laranjas podres para a boca do clone e cravos para a estrada.
O povo e os tachos jamais serão unidos!
E como seria se tivessem de dar a volta ao mundo, num infinito orgasmo de sons, com a satisfação que todos estivessem já no núcleo da Terra, perfeitamente derretidos, esquecidos até da Lua perdida, em constante fuga.