Influência da música africana no mundo
Também os calls (chamamentos) e os cries (gritos) do Sul dos Estados Unidos são uma herança africana. Há canções de protesto, de crítica social, outras que recordam episódios da vida quotidiana e feitos históricos. Há cantigas tristes e alegres, amargas e plenas de humor. Todas elas se encontram relacionadas com o ritmo do trabalho. Os calls que ressoavam nas plantações de algodão e de cana-de-açúcar, nos portos e nos locais de labor serviam para comunicar mensagens ou manifestar uma emoção.
Os blues eram os cânticos dos Negros do Norte estadunidense. Para os Brancos, os escravos negros eram apenas um nadinha superiores aos animais. Nos cânticos deles descobre-se a influência das canções do Sul. Os blues, cânticos trágicos da dor humana, provavelmente retiraram o nome da expressão inglesa to have the blues, que significa “estar dominado pela melancolia”, pelo desespero. Foram conhecidos como a “música do Diabo”, porque os cantores manifestavam o seu mal-estar, atribuindo-o ao Diabo ou à má sorte. O cantor fala sempre daquilo que não tem e nunca virá a ter. Não se nota neles uma atitude de revolta nem de desafio. O autor lamenta-se e procura unicamente sofrer o menos possível.
Também o jazz é um tipo de música que contém uma saudade da África. Não é música africana, mas não existiria sem a África. É resultado do encontro entre o “branco” e o “negro” no Sul dos Estados Unidos. No início, foi criado por músicos negros e era considerado como a expressão de uma minoria. Este género de música caracteriza-se pela improvisação e ritmo sincopado. É uma derivação dos espirituais e dos blues. Hoje, o jazz inspira muita da música moderna.
O famigerado banjo é a versão norte-americana de um tradicional instrumento africano de três cordas chamado akonting (ou ekonting, como é conhecido no Senegal).
É um instrumento tradicional do povo jola (ou diola, de acordo com a grafia em francês), utilizado pelos griots (classe de músicos itinerantes do Norte da África, algo semelhante ao trovador europeu), e de acordo com a tradição oral do mesmo povo, o instrumento teria surgido na vila de Kanjanka, onde hoje é a região de Casamança, no Sul do Senegal. Aliás, o nome dado à afinação mais comum do instrumento relembra tal tradição, pois recebe o nome de kan (como é chamado o som da corda de acompanhamento), jan (o som da segunda corda) e ka (o da terceira), ao invés do convencional ré-sol-fá, na tradição ocidental.
A partir de Casamança, o instrumento tornou-se parte da tradição musical da Guiné-Bissau e também da Gâmbia (mesmo porque os Jola estão distribuídos entre os três países, como convém à arbitrária e exploratória partilha da África feita pelos colonizadores europeus no final do século XIX). É bem semelhante ao banjo moderno, só que de dimensões maiores. O corpo é feito de uma grande cabaça recoberta com pele animal, sendo que o “braço” do instrumento consiste de uma larga vara que atravessa a cabaça. Possui três cordas, como já foi dito, dando uma o acompanhamento (assim como no banjo comum, de cinco cordas) e as outras duas, a melodia.
Onde está a ligação com o banjo? É só observar o formato do instrumento, o modo como é construído, a técnica usada para tocá-lo (a técnica designada o´teck assemelha-se bastante à mais antiga forma de se tocar banjo), o sistema de cordas de acompanhamento e coisas do género.
A ligação com a lusofonia? Casamança fez parte da Guiné-Bissau até 1886, quando foi incorporada no Senegal francês. Até hoje, a influência portuguesa é grande na área, havendo muitos Câmaras, Oliveiras, (o “Kamarrá” e o “Oliverrá”, ambos jogadores da selecção francesa, são naturais de lá).
Há ainda o dialecto crioulo, o mesmo da Guiné-Bissau, que lá também se usa como “língua franca”, além de tradições europeias e da religião católica, bem como nomes de localidades (Ziguinchor, a capital de Casamança e maior cidade, alegadamente deve o seu nome à expressão em português «cheguei e choram», fazendo referência aos africanos temerosos de estarem presenciando a sua vez de serem atirados para os temíveis navios negreiros portugueses.
Em acréscimo, o akonting deu origem a instrumentos similares em toda a região da população jola (na Guiné-Bissau e na Gâmbia, onde boa parte da população fala crioulo); há o buchundu, instrumento do povo manjaco (Guiné-Bissau e Gâmbia), o busunde (do povo papel, da Guiné-Bissau), e ainda o kisinta, dos Balantas, também da Guiné-Bissau.
Apesar de o banjo ter surgido na parte norte da África Ocidental, certo é que os colonizadores portugueses, à semelhança dos donos de escravos norte-americanos, começaram a apelidar o instrumento de “banjo”, designação proveniente da palavra m´banza, que em quimbundo (a língua do segundo maior grupo étnico de Angola) significa “lar”, “cidade”, como provável referência ao “banzo” que os escravos negros deviam sentir ao apoiar os seus lamentos nas cordas do instrumento…
Comentários ( 19 ) recentes
- Marta
25-09-2014 às 02:00:03Muito rico para mim sua matéria sobre a musica e suas diversas facetas. Estou fazendo um trabalho sobre musica no contexto da escravidão africana. Tem algum material para me indicar? Grata
¬ Responder - caio
10-06-2015 às 15:05:21problema seu..
¬ Responder - Sophia
29-09-2014 às 17:41:23Olá, segue este link para vossa consulta:
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http://www.ruadireita.com/musica/info/a-musica-na-africa/
Cumprimentos,
Sophia - vinicius
27-02-2013 às 07:18:18eu gosto muito da cultura africana
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- bruna
30-11-2012 às 18:46:06muito bom para quem quer aprender
¬ Responder - bruna
30-11-2012 às 18:42:55muito bom para quem quer aprender
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- sandra guanabara
20-11-2012 às 01:38:35Estou estudando sobre ocontinente africano
¬ Responder - gabrielly
13-11-2012 às 12:39:20eu acho interesante
¬ Responder - Sofia Nunes
14-09-2012 às 11:45:48Como bem salienta no seu completo texto, a música africana serve de influência a outros géneros musicais, que nela se inspiram. É o caso, por exemplo, da world music constituída, como indica o nome, por variadas influências mundiais. Assim, mesmo que afirmemos categoricamente que não gostamos de música tradicional africana, ou que não é “o nosso género de música”, estamos muito provavelmente a consumir géneros musicais em que a sua influência é grande e importante.
¬ Responder - camila
22-08-2012 às 13:51:05adoooro a musica africana kkk
¬ Responder - poliana
10-11-2011 às 10:56:33ótimo o que vc faz um trabalho bem feito
¬ Responder
- patricia
21-10-2011 às 12:44:52wauu...muito bom, estou estudando sobre a música africana vinda ao Brasil, estou gostando de td q estou vendo.
¬ Responder - wenderson
02-10-2011 às 13:33:34estou estudando sore a musica afro estou achando muito legal.
¬ Responder - italo
26-08-2011 às 19:51:36Nossa eu so profesor e nunca vi uma pesquisa tao boa como essa parabens
¬ Responder - beatriz
26-05-2011 às 19:20:47gosteii deu pra aprender um pouco sobre africa
¬ Responder - renaldo jaime cardoso(Mole)
02-03-2011 às 07:13:12ola adorei sobre a paciencia que tiveste de especificar e pesquisar sobre musica africana. Eu sou estudante do curso superior de musica na Universidade Eduardo Mondlane(Mocambique) e pretendo ter sempre contacto com a sua pessoa atraves email sobre cultura e musica africana em particular de Mocambique
¬ Responder - itaiana
09-11-2010 às 18:45:27adorei o texto
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é muito informativo - carolina
05-11-2010 às 00:21:40muito boa essa pesquisa !!
¬ Responder - CLEUSA
21-11-2009 às 19:01:17trabalho,,teatro musica e dança afro.
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Coordeno o coral municapal afro thulany
da cidade de limeira s.p ,apreciei bastante
e seu site..parabens..