Como sobreviver sem amor à camisola
Enquanto isso lá andavam eles, de trigo em punhos de latão e o calor os aquecia, sem que o desejo de abandonar as vistas deslumbrantes fosse um dado que lhes melhorasse a produtividade.
O capataz era áspero, desconfiava-se que andava com a mulher do patrão, enquanto o chefe andava a lutar pela vida, nas bolsas dos outros, mercado abaixo, capital na conta bancária acima.
A mulher do patrão não morria de amores pela camisola, sobrevivia facilmente com o decote provocante, os dinheiros abundantes e o capataz dotado de alegrias que o chefe não lhe conseguia dar.
Afinal a fama tinha a sua razão de ser mas o chefe que sempre estava fora, de nome Alicate e sempre a apertar as dentaduras de raiva pela traição, ah pois, não dormia, tinha por lá umas câmaras num esconderijo, produto de tecnologias avançadissimas, nanotecnologia diziam as gentes, que até permitiam saber se o filho que a patroa carregava no ventre era dele ou não.
E claro que com tanto desapego, qual Sodoma e Gomorra, num quintal de poucos hectares tinha de dar mau resultado.
E nós lá no campo, no preciso dia do reencontro, com fatas morganas incessantes e o trigo a queimar-se do Sol ardente fomos os primeiros a pagar, com taxas de juro para lá do mercado com brutos capitais enviados pelo patrão, nanotecnologia por cada orifício. Então deu-se um eclipse fatal.
Como não sabíamos a resposta, nem nunca havíamos corrido por amor à camisola, tiraram-nos o trigo da mão e substituíram-no por betão, as fatas morganas da visão e substituíram-nas por chefes intragáveis.