Uma Noite não são Dias
Após um “regresso ao passado” (1950) na sua produção anterior «Já não se escrevem cartas de amor», Mário Zambujal decide “viajar” até ao futuro, em que impera o domínio feminino. É o mundo das ministras, dos secretários, das futebolistas, das operárias da construção civil desbocadas, enfim, um mundo ao contrário daquele a que nos habituámos e que ajudámos a organizar. Por meio de uma cidade repleta de túneis e viadutos, os lisboetas passam a ganhar a vida de roupão e pijama, uma vez que trabalham a partir de casa. Daqui a 30 anos viveremos numa sociedade em pantufas, está visto!
Este livro traduz uma caricatura irónica e bem-disposta daquilo em que se poderá tornar Lisboa, a avaliar pelas atuais tendências, nomeadamente no que se refere ao progresso tecnológico e à decrépita evolução em termos humanos.
Uma trama original e divertida, cujo subtítulo é «Intriga e Paixões no Esquisito Ano de 2044», «Uma Noite Não São Dias» consubstancia uma crónica passível de soltar gargalhadas lá mesmo do fundo. Para tal contribuem descrições, nomes, previsões e até aportuguesamentos de palavras de origem inglesa, “traduzidas” literariamente como retumbam aos ouvidos.
Numa ambiência de mistério encontramos as personagens principais: Antony (historiador), a esposa, Grace, e o amigo James (escultor que só esculpe mulheres nuas em posições exóticas). Estas e outras figuras fazem parte desta deliciosa ficção, em que numa torre habitacional de 98 andares (chamada Avenida Vertical) acontecem dois roubos de monta: um helicóptero do heliporto situado no cume da construção e uma coroa de uma rainha portuguesa na Praça das Artes, nome de uma das praças interiores do edifício. Um apagão vem dificultar o trabalho da comandante Alzira Sidónia e do seu subcomandante, Ernesto. Na sucessão de acontecimentos, um reencontro de amigos, a relação de Grace e Antony, os métodos empregues pelos jornalistas de «O Indesmentível» e um romance escaldante compõem a cena de uma sociedade em que as poucas mulheres que ainda sabem cozinhar têm de seguir livros de receitas centenárias…