O Último Bandeirante
Raposo Tavares, aventureiro em terras de Vera Cruz, ainda bastante obscuras e repletas de mitos, embora deslumbrantes, desempenhou um papel crucial para que a Amazónia e boa parte do território brasileiro ficassem a pertencer a Portugal e não à vizinha Espanha. Para tal, teve de combater, para além das muitas dificuldades proporcionadas pela Natureza, os jesuítas e, a dada altura, os invasores holandeses no Nordeste. Tudo isto num clima de complexos emaranhados de interesses sociais e económicos, que opunham ainda mais jesuítas espanhóis e bandeirantes portugueses, não obstante a submissão a um rei comum (decorria a era dos Filipes).
A aventura, a extraordinária beleza exótica das paisagens, as relações entre brancos e índios, a paixão, a traição e a cobiça constituem alguns dos elementos que compõem «O Último Bandeirante». As vivências de um dos maiores exploradores do Brasil englobam a preparação da conjuntura para aquilo que viria a ser o Tratado de Tordesilhas, com uma compreensão mais profunda da importância dos bandeirantes na determinação do território do Brasil.
Quando Raposo Tavares atacou a missão jesuíta de Jesus Maria tinha como propósito fundamental tomar a região de Tape para a coroa portuguesa. O que ele não podia supor é que esse era, simplesmente, o início de uma empreitada impiedosa em nome da maior bandeira de sempre naquelas paragens.
Tornou ao mato, a fim de demarcar as fronteiras de Tordesilhas e buscar, mesmo contra vontade, o Eldorado. Só que três anos e muitos padecimentos depois, ao retornar a São Paulo, Raposo Tavares não era, nem de perto nem de longe, o mesmo indivíduo, apresentando-se desfigurado por fora e por dentro. Percorrer, há 400 anos, os dez mil quilómetros da sua última expedição, sem recursos, sob condições absolutamente adversas numa Amazónia que tinha tanto de bela quanto de agressiva, não seria para menos… Acabaria por morrer em São Paulo.