O Homem Duplicado - E quando a literatura nos faz pensar?
Pois bem, José Saramago tem essa extraordinária capacidade. Se em Portugal somente dois Homens mereceram Nobeis (apesar de muito acharmos que teríamos outros merecedores), José Saramago, vale por muitos. Existe sim senhora, quem diga que é difícil lê-lo, que é chato, que a sua postura os impede de aceitar a sua escrita, mas já tentaram ler as suas obras na sua verdadeira essência??? São únicas, obrigam-nos aquilo a que muitas vezes nos custa fazer – raciocinar.
Nas várias obras que José Saramago já escreveu, muitas são as polémicas que podemos realçar, mas uma define o ser Humano e coloca-nos numa dúvida existencial que nos confunde.
Se é característica do autor fazer-nos avaliar de forma intensa quem somos na realidade e o que nos rodeia, com o livro “O Homem Duplicado”, as intenções triplicam-se.
A história começa quando um homem comum descobre que tem um sósia que é ator de cinema. Alguém rigorosamente igual a si. Pela pesquisa que faz para o descobrir fisicamente e apresentar-se, este comum professor de História comove-se pela sua existência e coloca em causa muitos das sagradas convicções que o acompanharam por toda a sua vida.
A se descobrirem, conhecem-se não só um ao outro, mas à dura realidade que são clones. Instala-se então a incerteza e a revolta de se saber quem é o original e quem é de facto o duplicado.
O turbilhão de emoções que nos leva a pensar se seremos reais ou meras experiências científicas e mesmo até os valores tão pessoais e profundos que colocamos em causa quando somos confrontados com realidades impossíveis de imaginar.
Uma escrita que ultrapassa guiões de verdadeiros épicos, tal a descrição de espaços, sensações e personagens, o autor mais uma vez brinda-nos com perfeitas obrigações de pensamentos. Mais que obrigatória, a leitura desta obra marca-nos enquanto Seres. Seremos únicos ou não?