Morrer é só não ser visto
O livro «Morrer é só não ser visto» reúne testemunhos de pessoas que perderam entes queridos e que, sem medos nem preconceitos, expõem sentimentos e emoções a nu. Trata-se da experiência de celebridades e de anónimos, e da força, amor, positividade e esperança que estes iluminados transmitem, sobretudo a quem se encontre no pesado processo do luto.
O desassombro presente neste livro de Inês Barros Baptista contradiz a tese de que a morte constitui o segundo maior tabu das nossas sociedades, logo a seguir ao sexo, e, em alguns casos, ultrapassando-o ou substituindo-o. De facto, a frontalidade e a coragem patentes nesta obra surpreendem e tornam-na única na abordagem da morte e dos segredos da vida, apontando invariavelmente para o transcendente. O excerto que se segue é disso um exemplo: «O luto foi duro, demorado, difícil. Eu tinha trinta e dois anos e o Pyppo estava a um mês de completar trinta e três. A meias, tínhamos uma filha com cinco e um filho a caminho dos dois.
Nunca, até então, a morte tinha sido tão implacável, tão definitiva, tão trágica. De um momento para o outro, deixou-me sem chão, sem marido, sem pai, sem as canções que embalavam o sono dos filhos, sem abraços, sem companhia. E, no entanto, eu sabia – e, acima de tudo, sentia – que o Pyppo não tinha morrido, mas apenas mudado de latitude, de vibração, de frequência, e que, de onde quer que estivesse, velaria por nós.»
Um assunto que aparenta soturnidade e tristeza pode, autenticamente, inspirar sentimentos bons e profundos, desvendando laços porventura mais puros, profundos e perfeitos do que os antecedentes. É engraçado como os três “D” do luto (duro, demorado, difícil) são passíveis de dar origem a estes três “P” (puro, profundo, perfeito), no âmbito do infinito. Afinal, como diz o poeta, «nunca minguem se perdeu, tudo é verdade e caminho».
Comentários ( 18 ) recentes
- Sophia
09-05-2014 às 17:34:05Que interessante! Adoramos ler histórias reais, ainda mais sobre um assunto tão visado como a morte. Parece ser bem profundo e cheio de emoções.
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Cumprimentos,
Sophia - Carla Horta
07-10-2012 às 22:57:28Maria, nunca li o livro que aconselha, mas deixa qualquer leitor com uma vontade imensa de o "provar". A forma como o explica é tão intensa, profunda e pura que não encontro o objectivo correcto para descrever as suas palavras. Se tenho felicitado muitos dos textos que aqui se apresentam na Rua Direita, permita-me que lhe diga que o seu está elaborado com uma delicadeza extraordinária. Muitos e sinceros parabéns pela forma como se expressou.
¬ Responder - Anne Teixeira
05-10-2012 às 17:06:35Esse conceito me chamou a atenção. No momento em que uma pessoa morre ela passa a ser lembrada por não estar presente, não ser mais vista pelos outros. É uma espécie de saudade das situações vividas.As pessoas vivas também podem ser consideradas mortas quando não se preocupam em estar presente. Sentir falta de alguém é um bom sinal, mas chega um momento que acostumamos e ela acaba "morrendo", tornando-se apenas lembranças.
¬ Responder - Pedro gil Ferreira
04-10-2012 às 10:03:12Ora aí está um tema que me deslumbra, embora ainda com alguns receios.Na verdade ainda não tive a experiência de me terem morrido os meus entes mais queridos, a não ser a minha avó, que nem conheci, mas só de pensar nisso me arrepia.Ao ler ecertos de livros, fiquei contente por constatar que morrer é apenas não ser visto neste plano.E a perspetiva de haver outros, com outra frequência emociona-me, naturalmente.
¬ Responder - Teresa Maria Batista Gil
04-10-2012 às 09:57:23Adorei o tema e todos os comentários dos autores e leitores da Rua Direita.De fato a morte é um tema facinante, especialmente se a virmos como a perpetuação de sentimentos e laços que nos prendem aos nossos entes queridos.A vida noutros mundos, com outra vibração e frequência é cada vez mais desvendada e credível.
¬ Responder - Teresa Maria Batista Gil
04-10-2012 às 09:42:16Cada vez mais acredito que temos vida depois da morte.assim o significado de morte é apenas renacer, ou nacer de novo.Posto isto, morrer é de fato só não ser visto, porque a alma continua sempre viva, é eterna e vive num corpo mais fluidico, adaptável a outra dimensão e com nova conciência.
¬ Responder - Adriana dos Santos da Silva
01-10-2012 às 23:09:12A morte é apenas uma passagem para uma outra vida. Creio na imortalidade na bíblia, de fato todos os seguidores de Jesus viverão eternamente no céu. Não mais fisicamente, porém em um corpo glorificado. Muitos sentem medo, preferem nem pensar na morte, mas a hora que chegar minha vez, estou tranquila, confiando que sou salva e esse lugar chamado de céu me aguarda. Posso falar que o viver é Cristo e o morrer é lucro.
¬ Responder - Adriana dos Santos da Silva
01-10-2012 às 23:07:24A morte vem quando menos esperamos. Na verdade, no âmbito físico ela acontece, porém no âmbito espiritual conforme a bíblia entendemos que cada ser humano existirá para sempre. Há somente dois lugares e é isso que devemos pensar e analisar a nós mesmos para qual lugar iremos. A escolha é feita individualmente e com decisões precisas. Mesmo que muitos não acreditem, isso não podemos mudar. Realmente não era propósito de Deus, mas o homem falhou.
¬ Responder - Daiany Nascimento
01-10-2012 às 19:24:04“Um assunto que aparenta soturnidade e tristeza pode, autenticamente, inspirar sentimentos bons e profundos, desvendando laços porventura mais puros, profundos e perfeitos do que os antecedentes. É engraçado como os três “D” do luto (duro, demorado, difícil) são passíveis de dar origem a estes três “P” (puro, profundo, perfeito), no âmbito do infinito. Afinal, como diz o poeta, «nunca minguem se perdeu, tudo é verdade e caminho».” Parabens autora, por abordar tão bem este assunto.
¬ Responder - Nilson Uemoto
01-10-2012 às 00:41:31Perder um ente querido é dolorido,mesmo quando o ente querido está doente e de certa forma esperamos sua morte, quando a notícia da morte chega é algo muito difícil de superar.Tem certas culturas que consideram a morte uma espécie de renascimento e eles festejam quando uma pessoa se vai desse mundo.Na nossa cultura ocidental é impensável festejarmos a morte de um ente querido, tentamos nos consolar afirmando que a pessoa está em um lugar melhor
¬ Responder - Cristina Sousa
28-09-2012 às 15:17:21Concordo com a afirmação. As pessoas que morrem deixam de habitar este mundo, mas concerteza, permanecerão a ocupar um lugar na memória e lembrança das pessoas com quem se relacionou neste mundo. Existiram para sempre os registos da sua permanência neste mundo, como são as fotografias, os filmes, as cartas, etc. Afinal, o ser humano torna-se, por si só, um ser imortal, independentemente do que foi a sua vida neste mundo.
¬ Responder - André Belacorça
25-09-2012 às 18:35:55Um livro muito interessante e misterioso, pelo que o nome indica, talvez aconselhável a quem gosta de ler e se deixar deliciar pelas misteriosas escritas que vamos encontrando ao longo de vários livros.
¬ Responder - Teresa Maria Batista Gil
25-09-2012 às 14:02:33A crença na imortalidade na alma é cada vez maior. E, atualmente as terapias relacionadas com a reencarnação são cada vez mais aplicadas.Assim, torna-se óbvio que há vida depois da morte, logo morrer significa não ser visto neste mundo porque a pessoa passa para outro mundo, espiritual.
¬ Responder - Daniela Vicente
24-09-2012 às 00:39:46essa ideia é muito relativa. a sensação de não poder ver a pessoa nunca mais é muito doloroso. é muito melhor ter a sensação que aquela pessoa está sempre ali se precisarmos dela, só por gostarmos da sua presença.
¬ Responder - Wallace Randal
22-09-2012 às 21:44:07Boa tarde Maria Bijóias ,tudo bem? A morte, apesar de tão natural quanto a vida, é um assunto por demais delicado e tenso. Envolve os sentimentos mais sóbrios e por vezes ricos, dos quais podem gerar projetos incríveis como o livro de Inês Barros Baptista, Morrer é só não ser visto, citado no texto. Muito boa sua exposição de ideias, principalmente o paradoxo dos sentimentos duro, demorado, difícil e puro, profundo, perfeito,
¬ Responder - Wallace Randal
22-09-2012 às 21:43:56Boa tarde Maria Bijóias ,tudo bem? A morte, apesar de tão natural quanto a vida, é um assunto por demais delicado e tenso. Envolve os sentimentos mais sóbrios e por vezes ricos, dos quais podem gerar projetos incríveis como o livro de Inês Barros Baptista, Morrer é só não ser visto, citado no texto. Muito boa sua exposição de ideias, principalmente o paradoxo dos sentimentos duro, demorado, difícil e puro, profundo, perfeito.
¬ Responder - Sofia Nunes
22-09-2012 às 18:12:19Não são todos os que têm coragem para escrever sobre este tema, pelo contrário. Pessoalmente, tenho que confessar que, após uma pré-adolescência e adolescência em que a ideia da inevitabilidade da morte me perturbava, escolhi o caminho de evitar este assunto. No entanto, é algo que não pode ser evitado, uma vez que é um tema tão presente. Dou-lhe, assim, os parabéns por abordar este assunto, e pela boa escrita que está patente neste texto.
¬ Responder - Daniela Vicente
10-09-2012 às 12:53:55Morrer é um facto muito real da nossa vida. Quem já não perdeu um ente querido? Todavia, como nos podemos conformar com a saída de uma pessoa da nossa vida? Eu adorava acreditar na vida para além da morte, o que é muito difícil, visto que não há provas nenhumas disso. A luz ao fundo do túnel não me parece a presença de uma segunda vida à nossa espera. O seu texto está bonito.
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