Histórias do Fim da Rua
As 164 páginas da novela «Histórias do Fim da Rua» aludem a uma cidade, a qual tem um bairro, que por sua vez contém uma rua a que já foram dados nomes de tantas pessoas ilustres, difíceis de pronunciar, por sinal, e, por isso, conhecida somente como a Rua de Trás. Simples, não é? Habitantes sui generis desfilavam por ela: Sérgio e Nídia, que pareciam procurar o cenário irrepreensível para o divórcio; o Ercílio da tabacaria, ex-futebolista desajeitado; o Zé Viúvo, que se casou com a tia para lhe arrebatar a herança, mas que faleceu apenas alguns meses após o enlace; o Geraldo Bemposto, dado a tocar concertina, bombo ou tambor; o gato dos Ramires do talho, que aprecia mais chouriço e torresmos do que peixe (Um gato carnívoro! É o fim das instituições…), entre outros vernáculos que protagonizam os episódios ocorridos na Rua de Trás.
As saudades de tempos antigos, em que o perigo não espreitava a cada esquina, em que a porta de casa não precisava de ser fechada quanto mais trancada, em que os filhos não eram só dos pais mas de todos os que viviam naquela rua, e dos quais, portanto, todos ajudavam a tomar conta, qual família alargada, certamente acometerão os que cresceram nesta época privilegiada. Atualmente, os vizinhos têm todos o mesmo nome: CONDÓMINO, que bem poderia corresponder a algum título, alcunha, honraria, crédito ou influência, já que não se sabe rigorosamente nada da vida de cada um deles.
Reinventar uma cidade destas permite debelar o saudosismo e é um estímulo para continuar a acreditar que é possível recuperá-la, travando a “coisificação” absolutamente desumanizante a que o crescimento exponencial da densidade urbana votou os mais antigos inquilinos de bairros e ruas históricos e aqueles que só agora chegaram. Mas isto não acontecerá enquanto o nosso vizinho não tiver um nome e um rosto…
Também vai gostar:
Comentários ( 2 ) recentes
- jacyra
21-05-2012 às 21:08:55Lembrei-me com sabor de mariolas, do tempo em que a energia eletrica, só existia nas casas mais abastadas.Da época, que as crianças podiam brincar livres sob o olhar dos vizinhos que cuidavam de todos como seus.Aí que saudade!!
¬ Responder - leitor
25-11-2010 às 20:19:38Adorei ler este livro. Bastante cómico e um fiel representante da sociedade da época.
¬ Responder