Ensaio sobre a Cegueira – Uma grande literatura
Pode não ter quaisquer hábitos de leitura ou ser um aficionado em leitura, que não tem qualquer tipo de importância se ainda não leu uma das maiores obras de todos os tempos.
Escrito pelo Nobel Português da Literatura (1998), José Saramago, este livro apresentado em forma de obra, representa o ser humano na sua mais verdadeira e crua essência.
Se o autor desde sempre nos habituou a uma crítica da sociedade que pode ser interpretada por qualquer uma das suas entre linhas, com “Ensaio sobre a Cegueira”, José Saramago ultrapassa-se a si mesmo na exploração das capacidades (ou incapacidades) do Ser Humano.
Quando se instala uma pandemia de cegueira branca altamente transmissível, como reagem os outros, o governo e a sociedade?
Um grupo de pessoas é presa num manicómio para que não seja transmitida a cegueira pandémica a mais ninguém. A eles juntam-se outras centenas infetadas enquanto o governo procura uma cura. Sem alimentos e vítimas de crimes, presos à esperança de que o governo os proteja e salve, acabam por fugir quando descobrem que vão morrer de fome e queimados com um incêndio de onde ninguém os salva.
Ao saírem, descobrem que não são os únicos, e sem ter a noção exata das proporções da epidemia, deparam-se com a fome e a forma imunda com que se vive na sociedade. Mata-se por comida. Uma guerra de cegos, onde só um personagem é rei porque vê. São somente estes os olhos que temos para ver toda a história a decorrer.
Defeca-se e vomita-se no chão e existem corpos a ser comidos por cães famintos no meio das ruas da cidade que habitam.
O autor descreve de tal forma a brancura da cegueira, que muitas vezes damos por nós a confundir as letras negras do livro com as folhas imaculadas que desfolhamos.
Repleto de sensações absolutas, o autor consegue mais uma vez apontar o dedo a uma sociedade que jamais conseguirá viver em plena anarquia, mesmo estando em permanente protesto com a democracia que vive diariamente.
E quando todos julgamos estar seguros no decorrer das nossas vidas, eis que surge alguém que nos lembra o quão pouco cívicos podemos ser e em que perfeitos animais irracionais nos tornamos em consequência de uma pandemia.
Nos tempos que correm, este livro dá que pensar!
Comentários ( 9 ) recentes
- Sophia
09-05-2014 às 18:11:18Há tantos livros excelentes para ler, mas o tempo não nos permite. Mas, podemos separar alguns livros que nos inspiram por demais! Essa obra desse autor tão reconhecido mundialmente é fantástica!
¬ Responder
Cumprimentos,
Sophia - Daniela Vicente
10-09-2012 às 11:19:01O seu texto está muito interessante e eu adorei o livros. José Saramago é de longe um dos meus escritores preferidos. Já li imensos livros deles e já fui à Fundação de José Saramago na Casa dos Bicos ver a sua exposição. Não consigo perceber como Portugal foi tão desrespeitador pela liberdade de expressão do escritor. A Igreja e o Estado foram miseráveis. Por alguma razão se grita em boa voz Democracia e Liberdade.
¬ Responder - Pedro R.
24-07-2012 às 10:12:14Clara,
¬ Responder
Lamento discordar contigo. Não foi Portugal que o tratou mal. Portugal sempre lhe deu o devido valor. Houve quem governasse Portugal na altura errada para este Nobel.
Podemos ter por habito, enquanto povo, colocar na boca ou no coração qualquer individuo. Maltratamos, escorraçamos, mas julgo que não tenha sido o caso.
Sempre soubemos quem foi José Saramago e exatamente pelo facto de incomodar tanta gente é que o soubemos manter no coração até aos dias de hoje. - Clara
24-07-2012 às 10:11:49Como é que Portugal deixou “fugir” o maior escritor de todos os tempos. Portugal tratou José Saramago de uma forma completamente absurda. Um Nobel de renome, tratado quase como lixo num Portugal que precisa tanto de uma inspiração filosofa como a que ele foi. Atitudes vergonhosas quando o resto do mundo lhe dava o devido valor.
¬ Responder
- Ivone Maria
23-07-2012 às 12:14:51Já li vários livros de José Saramago e ao contrario do que muita gente diz sobre a difícil leitura dele, eu acho que as palavras fluem de uma forma muito rápida e fácil.
¬ Responder
Aconselho também “O Homem Duplicado” pois também aqui são focados aspetos que ainda não tinham sido tidos em conta. Numa altura em que muito se falava da clonagem, José Saramago fala da clonagem em primeira pessoa e mais uma vez a sociedade é posta em causa.
- Catarina
23-07-2012 às 12:14:29Já viram o filme? Tenho por habito ler os livros primeiro e depois ver os filmes e quase parece masoquismo, pois insisto em verificar que os filmes nunca chegam à qualidade das palavras escritas. Curiosamente “Ensaio sobre a Cegueira” em filme é irrespirável. É extraordinário. Segue a história do livro à risca e deixa transparecer na totalidade a verdadeira essência do livro.
¬ Responder
- Susana
19-07-2012 às 12:52:38Nunca consegui ler José Saramago. A escrita deste galardoado escritor é para mim confusa e as falhas na pontuação impedem-me de conseguir fazer uma leitura corrente e compreensível. Não quero apontar negativamente de forma alguma e criticá-lo, pois acho que o consegue ler permite-se a muitos e fantásticos bons momentos.
¬ Responder
- Sérgio Santos
12-07-2012 às 11:52:06José Saramago sempre nos habituou a uma escrita diferente de qualquer outra feita no mundo. Um pensador, um filosofo, um verdadeiro artista da escrita e do pensamento.
¬ Responder
Encontramos de facto neste livro uma forma de ver a vida e das oportunidades que cada um de nós tem de forma tão fútil, que passam por nós sem que o devido valor lhes seja dado. - Sandra
12-07-2012 às 11:51:40Este é um dos livros mais extraordinários que já li. Faz-nos pensar numa quantidade de coisas que julgamos certas nos dias de hoje e que afinal têm uma importância bem maior do que julgamos. Aconselho a qualquer pessoa a leitura e reflexão a que este livro obriga. Extraordinário sem qualquer sombra de duvidas.
¬ Responder