A Revolução De 1383-85 Segundo Fernão Lopes
Todavia, durante o seu reinado, D. Fernando defrontou-se com dois factores desestabilizadores, que foram: o assassínio de D. Pedro I de Castela pelo meio-irmão, Trastâmara, Henrique II após subir ao trono, e o descontentamento do povo por ser um rei solteiro, sem esposa escolhida pelos interesses do Estado. A escolha matrimonial preferencial recaía sobre uma das filhas de Henrique II, a infanta D. Leonor, contudo, D. Fernando interessa-se por D. Leonor Teles casada com João Lourenço da Cunha. Para concretizar este amor, o monarca anula o casamento da amada com o nobre da Beira , ignora os apelos do povo português que é contra o consórcio e casa com D. Leonor Teles , mulher dotada de grande beleza, como é descrita por Fernão Lopes.
Em 1370, a multidão de Lisboa nomeia Fernão Vasques para ser o porta-voz das razões da oposição ao consórcio, porém D. Fernando não tardou a sair de Lisboa rumo ao Norte, onde pretendia casar com D. Leonor Teles, no Mosteiro da Leça do Balio, em Abril de 1371. De regresso a Lisboa, após o anúncio do consórcio, D. Fernando exige respeito para com a nova rainha de Portugal, mas nem todos acordam a este desejo. Por intermédio de D. Leonor Teles, Fernão Vasques, assim como outros líderes da rebelião, perdem a vida.
O reinado de D. Fernando preocupou-se em proteger a agricultura, o comércio externo e a marinha, mas o monarca esqueceu-se de tirar proveito das condições financeiras deixadas pelo seu pai, investindo em guerras com Castela. Para o cronista, D. Fernando era um rei amaldiçoado pelo povo pela sua persistência em guerras para conquistar terras alheias e satisfazer os caprichos de D. Leonor Teles.
Do casamento com D. Leonor Teles nasceram D. Pedro e D. Afonso (faleceram em tenra idade), e D. Beatriz, que nasceu em Coimbra em 1373 e casou com D. João I de Castela. A nível de curiosidade, D. Fernando teve uma outra filha da primeira mulher que ignorava, D. Isabel, que nasceu em 1364 e casou duas vezes.
D. João I, filho bastardo do rei D. Pedro I e de Teresa Lourenço , nasceu em Lisboa a 11 de Abril de 1357 e faleceu na mesma cidade a 14 de Agosto de 1433. Era meio-irmão do rei D. Fernando. Aos seis anos é armado cavaleiro e enviado para Avis, onde passa a adolescência. Em 1382, é preso no Castelo de Évora devido a intrigas com D. Leonor Teles e o Conde Andeiro e solto por D. Fernando, graças à intervenção do Conde de Cambridge . Após a morte de D. Fernando a 22 de Outubro de 1383, o amante de D. Leonor Teles, o Conde Andeiro, toma o poder para desagrado da população.
D. Fernando falece deixando apenas a infanta D. Beatriz como herdeira ao trono, única filha que vingou do casamento com D. Leonor Teles. No entanto, antes da sua morte, a 2 de Abril de 1383, foi assinado o contrato de casamento entre a infanta D. Beatriz e o rei D. João I de Castela. Este previa que D. Leonor Teles conserva-se a regência até D. Beatriz ter um filho varão maior de 14 anos. Esse seria o herdeiro da coroa portuguesa, mas nunca o herdeiro da coroa de Castela, pois D. João I já tinha filhos do anterior casamento. A 14 de Maio de 1383 celebra-se o casamento entre D. Beatriz e D. João I de Castela, presidido por D. Pedro de Luna, cardeal de Aragão.
A aclamação de D. Beatriz como rainha de Portugal foi mal aceite, pois a vontade do povo era ter o infante D. João, filho de D. Pedro I e de Teresa Lourenço, como rei de Portugal. A revolta não tarda e deflagra em Lisboa. Entretanto, Álvaro Pais começa a engendrar um plano para tirar o Conde Andeiro do poder, incentivando o infante D. João a matá-lo. Para encobrir o assassinato do Conde Andeiro, Álvaro Pais pensa em envolver a população lisboeta levando-a a pensar que o amante da rainha pretendia matar o Mestre de Avis.
A 6 de Dezembro de 1383, o infante D. João chega aos Paços da Rainha com o intuito de matar o Conde de Andeiro, pedindo a este para falarem em privado. É neste momento que o Mestre acusa-o de o querer ver morto e dá-lhe uma pancada na cabeça, sendo Rui Pereira a encetar o golpe final. Álvaro Pais, levando o seu plano avante, corre pelas ruas de Lisboa pedindo ao povo que auxiliem o mestre. O povo, tentando acudir ao Mestre, segue Álvaro Pais até aos Paços da Rainha, onde o Mestre de Avis aparece numa janela, incentivado pelos seus amigos, evitando, assim, que o povo incendiasse todo o edifício
Passados dois dias, a 8 de Dezembro de 1383, a rainha D. Leonor parte para Alenquer e D. João pensa em fugir para a Inglaterra, pois tem medo das retaliações da regente pela morte do seu amante.
O Mestre de Avis decide ficar em Portugal, contudo tem que casar com D. Leonor, mantendo esta a regência conforme o contrato de Salvaterra de Magos e o Mestre deve ser regedor até o filho da infanta D. Beatriz obter os 14 anos e, nessa altura, ser Governador do rei. A rainha D. Leonor aceita todas as cláusulas excepto casar com o Mestre de Avis. Por fim, o futuro rei de Portugal aceita o cargo de Regedor e Defensor dos Reinos de Portugal e do Algarve.
No dia 12 de Janeiro de 1384, o rei D. João I de Castela e a rainha D. Beatriz chegam a Santarém e passado um dia a rainha D. Leonor é obrigada a renunciar à sua regência dos Reinos de Portugal e do Algarve a favor do casal. A 6 de Abril de 1384, ocorre a Batalha de Atoleiros, em Atoleiros, no Alentejo, em que os portugueses comandados por Nuno Álvares Pereira derrotam os castelhanos. Esta vitória resulta da confusão instalada no campo de batalha por parte dos castelhanos que não souberam lidar com as lanças portuguesas.
Em fins de Maio de 1384, D. João I de Castela põe cerco a Lisboa, pois ele sabe que possuindo esta cidade, o reino cairá de seguida. Sai de Santarém e instala-se no Lumiar nos primeiros dias Março. Contudo teve de regressar a Castela a 14 de Outubro do mesmo ano devido a uma epidemia de peste.
As Cortes de Coimbra iniciaram-se pouco depois da chegada do mestre à cidade de Coimbra e durou aproximadamente um mês. Foram tratados os seguintes assuntos: a atribuição da Coroa, o financiamento da guerra e a formulação de capítulos. Participaram nas Cortes o clero, a nobreza e os concelhos. Ficou decidido que o conselho do rei seria formado por dois representantes de cada um dos grupos sociais: clero, nobreza, letrados e cidadãos.