A Casa Quieta
Marina e Salvador são os protagonistas deste conto. Casados, experimentaram a rotina, a traição, o vazio de uma casa sem filhos, uma solidão volta e meia partilhada e no fim, a morte dela. Apesar dos pecados que Salvador cometera, com os quais a quietude do remorso o martirizará incessantemente, ele adora a mulher, mas apenas tomará consciência da dimensão desse amor e da grandeza da sua companheira de existência na ocasião em que toma conhecimento que irá perdê-la. Como é que se imagina o futuro sem a pessoa amada? De que forma se vê o nosso “mais que tudo”, peça fundamental do nosso viver, morrer ao nosso lado? Como permitir essa partida? O que acontece quando a casa fica “quieta”?
O silêncio, a solidão e a infidelidade constituem os ingredientes principais de uma destinação que, afinal, já marcava tanto a família de Salvador quanto a de Mariana. Efectivamente, a História encarregou-se de os brindar com um déjà vu de inevitabilidades circunstanciais, motivadoras de ausência, de afastamento e mesmo de loucura.
Outros temas emergentes neste livro são a família, a confiança, o perdão, o cancro e a própria morte. O itinerário temporal de «A Casa Quieta» é algo sui generis: parte-se do presente para saltitar pelo passado, voltando posteriormente à actualidade. Não se trata de um romance propriamente fácil de ler, até porque em diversas passagens é necessário que o leitor, para se conseguir situar, “calce os sapatos” do autor, que é como quem diz, faça um esforço para se entrosar no encadeamento do seu pensamento, uma vez que esta é uma obra de índole eminentemente intelectual.
Este livro de Rodrigo Guedes de Carvalho prima por consubstanciar um tipo de escrita muito exigente, não só pela invocação de situações e sentimentos aflitivos, como pela consumição que provoca na mente de quem o lê. Não perde, com isto, a qualidade de altamente entusiasmante e arrebatador.