Dois filmes, uma história - Lolita
Kubrik é, indisputavelmente, um dos melhores e mais originais realizadores de sempre. Em “Lolita”, um filme a preto e branco, pegou na perturbadora história do amor e posse sentidos e exercidos sobre Lolita, uma adolescente de 14 anos, por Humbert, professor universitário hospedado na casa da sua mãe que se viria a transformar no seu padrasto e depois, com a morte da esposa, no seu tutor legal, e transformou-a numa comédia negra. Com isto, Kubrik perdeu o essencial da história, a sua carga emotiva, apresentado um filme impecável do ponto de vista da realização, mas não da história.
O realizador da versão de 1997, Adrian Lyne, apresenta-nos um filme com alguns momentos de comédia, é certo, mas que é em essência dramático. E assim deparamo-nos com um filme retorcido, perturbado, como é a própria história que relata. Dolores Haze, chamada Lolita por Humbert, é uma ninfa que alterna entre a inocência e a provocação, enquanto Humbert é o homem que, em adolescente, perdeu o seu primeiro amor para a morte por tifo, vendo-se agora cego pela violenta paixão por Lolita, e o espectador dá por si a compadecer-se dele. É aqui que reside a mestria do filme de Lyne, que o transforma numa obra muito mais poderosa que a de Kubrik.
Ambos os filmes merecem ser vistos, sendo duas visões diferentes sobre um grande clássico da literatura. Ainda que o natural seja tendermos a esperar mais do filme de Kubrik, o de Lyne é, na realidade, a verdadeira adaptação cinematográfica Lolita.