Vasco Fernandes, o Grão Vasco
Categoria: Biografias
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Vasco Fernandes, mais conhecido por Grão Vasco, foi o grande mestre da pintura quinhentista em Portugal e encontrou a sua maior inspiração nas paisagens da Beira onde viveu, pintou com mestria e morreu. Nasceu nos arredores da cidade de Viseu no último quartel do século XV, filho de um moleiro. A sua naturalidade, data de nascimento e filiação são dados meramente especulativos e duvidosos, pois não há quaisquer registos documentais referentes a estes. Sabe-se que casou duas vezes e teve duas filha.
Em 1501-1502, surgem os primeiros documentos sobre o seu oficio de pintor. A sua primeira obra surge por volta de 1506 e consistiu na realização de quinze tábuas do retábulo da Sé de Viseu. Todavia, e conforme vamos poder constatar mais adiante, muitas obras atribuídas a Vasco Fernandes têm um cariz duvidoso e esta obra está na lista dessas dúvidas. Análises laboratoriais realizadas por Luís Manuel Teixeira apontam a realização desta obra na direcção do pintor Francisco Henriques.
Em 7 de Maio de 1506, Grão Vasco realiza um contrato com aquele que vai ser um dos seus mecenas, o bispo de Lamego D. João Camelo Madureira, que propõe ao pintor a execução de vinte painéis (de início eram apenas catorze) para a Sé de Lamego, tendo recebido por eles 350.000 réis, cem alqueires de milho e duas pipas de vinho.
Em 30 de Abril de 1511, o Bispo de Lamego contrata-o, novamente, para a realização, em conjunto, com Fernão Eanes de uma pintura e douramento da composição escultória atribuída ao mestre marceneiro flamengo Arnao Carvalho, Virgem de Jessé. Estas tábuas têm claramente influências do estrangeiro, nomeadamente da Flandres.
Anos mais tarde, por volta de 1520, Grão Vasco terá realizado o «Tríptico Cook (Cristo deposto da Cruz, S. Francisco e Santo António)», obra de grande simplicidade fugindo aos requintes da arte da Flandres e propondo, aparentemente, uma obra pobre, ausente de enfeites. Estamos perante a fuga para as suas origens. Este tríptico não é a primeira obra do pintor viseense, mas é sem dúvida a mais arcaizante. É de grande relevância sublinhar o dramatismo e o pathos presente na cena da Virgem Dolorosa a lamentar o seu Filho.
O «Tríptico de Cook» é uma das obras assinadas por Vasco Fernandes, particularidade muito interessante numa época em que a sociedade portuguesa ainda não dava valor à importância do artista enquanto profissão honrada e com direitos. O atributo ao artista já tinha começado no Renascimento italiano, mas, só mais tarde, num processo de aculturação, é que chega a Portugal.
Em 1515, o pintor renascentista foi descoberto em Lisboa, mas só voltaríamos a encontrar o seu rasto em 1535, em Coimbra, a executar o retábulo para o Mosteiro de Santa Cruz. O Pentecostes é uma obra muito importante de Vasco Fernandes por simbolizar um marco na evolução artística do pintor. Note-se a poderosa caracterização fisionómica dos rostos e os pormenores minuciosos.
Vasco Fernandes, figura de grande interesse para os historiadores, falece por volta 1541 deixando a estes um vasto trabalho que ainda não está terminado nos dias de hoje. Em 1607, Luís Ferreira é o primeiro a atribuir obras a Grão Vasco como S. Pedro; em 1630 Manuel Ribeiro Botelho Pereira atribui o Calvário, S. João Baptista, S. Sebastião e Sant’Ana. Para Maximiano de Aragão, o S. Pedro e o Calvário devem ter sido executados cerca de um ano antes do pintor falecer. Tirando o painel de Sant’Ana, desaparecido actualmente, todos os outros podem ser visitados no Museu Grão Vasco, em Viseu.
A Grão Vasco agradecemos um portfolio muito rico daquele que foi o Renascimento português, e, por isso, expomos, aqui, algumas das suas obras:S. Pedro é a figura central, chefe da Igreja, sentado num magnifico trono ao estilo renascentista. Os suas vestes são ricamente ornamentadas e muito pesadas. Esta obra tem um realismo patente soberbo e o olhar de S. Pedro para o absoluto acentua a qualidade desta obra; no Calvário é possível detectar três sentimentos diferentes: a dor, a folia e alheamento. À direita de Cristo, encontra-se o Mau Ladrão, conduzindo o nosso olhar para o suicídio de Judas, que está a libertar a espírito maligno. Por sua vez, à esquerda do mesmo vemos a chegar José de Arimateia com uma escada, carregando a autorização de sepultar Jesus Cristo. No chão, ao pé da cruz está uma tíbia, uma caveira e uma costela tradicionalmente pertencente a Adão; na obra Assunção da Virgem, que pode ser vista no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa, temos como figura central a Virgem, de rosto jovem e sereno, com tecidos leves e uma fita que lhe fixa a cintura.
São quatro os anjos que amparam o manto de Maria e os restantes estão a tocar música. Maria está a ascender. Esta obra é rica no drapeado das roupas da Virgem e dos Anjos, o que confere movimento;na obra S. Sebastião, o corpo de S. Sebastião é representado atado a uma coluna de mármore, pelas mãos e pelos pés, como Cristo na Cruz, com uma corda que não o prende completamente, pois o algoz ainda está a terminar a função quando os arqueiros começam a disparar as setas. Os nós das cordas são feitos cuidadosamente para não magoar o mártir. Estamos perante a acção ainda a decorrer, não é um acto terminado. S. Sebastião encontra-se nu, apenas coberto por um pano igual ao de Cristo na Cruz , deixando a sua roupa espalhadas pelo chão, à medida que foi sendo despido, como símbolo de abandono da vida terrestre repleta de injustiça. Podemos encontrar, ainda, um marco da nudez na perna esquerda do carrasco, na visibilidade da roupa interior e no lenço atado à cabeça.
No grupo de arqueiros vemos que alguns já estão disparar contra o corpo nu do santo e outro encontra-se a armar a sua besta. O rosto de S. Sebastião não mostra o sofrimento do seu martírio, tendo apenas o corpo um pouco contorcido. O seu olhar alcança o céu e ignora todos aqueles que estão à sua volta a fazer-lhe mal. No céu azul ponteado por nuvens brancas e cinzentas vemos um anjo a chegar banhado pela luz do dia e traz um manto que o cobre totalmente de cor alaranjada, cor da confiança, da fé e da constância. O anjo traz consigo a palma, atributo dos santos mártires, reconhecível facilmente na sua iconografia.
O céu é símbolo da paz conseguida após a morte e só é alcançada por aqueles que usaram a sua vida em benefício de outrem e quando venceram provas limites, entrando num estado de consciência superior. O azul do céu é a bondade, lealdade, glória e caridade. Atrás da acção principal, o martírio de S. Sebastião, conseguimos ver um caminho que leva, possivelmente, à cidade, onde se encontra um grupo de pessoas a conversar. Aqui, o caminho pode ser sinal de progresso individual, ascensão para o superior. Longe da cidade é possível avistar outra povoação retratada com menor minúcia.
Quando consultamos a biografia de Vasco Fernandes, o nome Gaspar Vaz está, incontornavelmente, associado a este devido à forte influência que Vaz sofreu do pintor. Gaspar Vaz foi um assistente do pintor régio Jorge Afonso , trabalhando na oficina deste em Lisboa em 1514-15, onde adquiriu a sua formação, e um pintor que residiu em Viseu desde 1522 até 1568. Não se sabe muito sobre este artista. Provavelmente nasceu em 1490, casou duas vezes, primeiro com Isabel Lopes, e depois com Maria Lopes, teve pelo menos sete filhos (Jerónimo, António Manuel, Isabel, Maria Tavares e Catarina Lopes). Não é esclarecedora a forma como Gaspar Vaz contactou com Vasco Fernandes, pois há duas situações possíveis: a estadia de Gaspar Vaz em Viseu (possivelmente discípulo de Vasco Fernandes na oficina de Lisboa) e a entrada de Grão Vasco na oficina de Jorge Afonso em 1515.
Para concluir, a política de protecção às artes seguida por D. Manuel I fixou em Portugal um conjunto de elementos que permitiram a evolução da pintura no início de quinhentos. Da excelente qualidade e quantidade artística registada surgiram importantes escolas regionais como Viseu, Coimbra e Évora com o principal centro de produção pictórica era Lisboa, onde se destacaram pintores contemporâneos de Vasco Fernandes, como Jorge Afonso, Gregório Lopes, Cristóvão Figueiredo e Garcia Fernandes. Todavia, embora fosse na capital o grande centro das relações, é na oficina de Viseu que vamos encontrar o pintor viseense.
Vasco Fernandes, mais popularizado por Grão Vasco, foi um pintor renascentista durante o reinado de D. Manuel I, e o seu sucessor D. João III. Em Viseu, morou e teve uma oficina, contudo não se sabe com quem aprendeu a pintar nem quando surgiu a iniciativa de assinar as suas obras e, por isso, vemos surgir muitos historiadores tentarem completar a história de um artista tão apreciado não só pelo seu talento, mas também pela tentativa de inovação de um Portugal à margem de uma Europa «revolucionária» no campo das artes.
Em 1501-1502, surgem os primeiros documentos sobre o seu oficio de pintor. A sua primeira obra surge por volta de 1506 e consistiu na realização de quinze tábuas do retábulo da Sé de Viseu. Todavia, e conforme vamos poder constatar mais adiante, muitas obras atribuídas a Vasco Fernandes têm um cariz duvidoso e esta obra está na lista dessas dúvidas. Análises laboratoriais realizadas por Luís Manuel Teixeira apontam a realização desta obra na direcção do pintor Francisco Henriques.
Em 7 de Maio de 1506, Grão Vasco realiza um contrato com aquele que vai ser um dos seus mecenas, o bispo de Lamego D. João Camelo Madureira, que propõe ao pintor a execução de vinte painéis (de início eram apenas catorze) para a Sé de Lamego, tendo recebido por eles 350.000 réis, cem alqueires de milho e duas pipas de vinho.
Em 30 de Abril de 1511, o Bispo de Lamego contrata-o, novamente, para a realização, em conjunto, com Fernão Eanes de uma pintura e douramento da composição escultória atribuída ao mestre marceneiro flamengo Arnao Carvalho, Virgem de Jessé. Estas tábuas têm claramente influências do estrangeiro, nomeadamente da Flandres.
Anos mais tarde, por volta de 1520, Grão Vasco terá realizado o «Tríptico Cook (Cristo deposto da Cruz, S. Francisco e Santo António)», obra de grande simplicidade fugindo aos requintes da arte da Flandres e propondo, aparentemente, uma obra pobre, ausente de enfeites. Estamos perante a fuga para as suas origens. Este tríptico não é a primeira obra do pintor viseense, mas é sem dúvida a mais arcaizante. É de grande relevância sublinhar o dramatismo e o pathos presente na cena da Virgem Dolorosa a lamentar o seu Filho.
O «Tríptico de Cook» é uma das obras assinadas por Vasco Fernandes, particularidade muito interessante numa época em que a sociedade portuguesa ainda não dava valor à importância do artista enquanto profissão honrada e com direitos. O atributo ao artista já tinha começado no Renascimento italiano, mas, só mais tarde, num processo de aculturação, é que chega a Portugal.
Em 1515, o pintor renascentista foi descoberto em Lisboa, mas só voltaríamos a encontrar o seu rasto em 1535, em Coimbra, a executar o retábulo para o Mosteiro de Santa Cruz. O Pentecostes é uma obra muito importante de Vasco Fernandes por simbolizar um marco na evolução artística do pintor. Note-se a poderosa caracterização fisionómica dos rostos e os pormenores minuciosos.
Vasco Fernandes, figura de grande interesse para os historiadores, falece por volta 1541 deixando a estes um vasto trabalho que ainda não está terminado nos dias de hoje. Em 1607, Luís Ferreira é o primeiro a atribuir obras a Grão Vasco como S. Pedro; em 1630 Manuel Ribeiro Botelho Pereira atribui o Calvário, S. João Baptista, S. Sebastião e Sant’Ana. Para Maximiano de Aragão, o S. Pedro e o Calvário devem ter sido executados cerca de um ano antes do pintor falecer. Tirando o painel de Sant’Ana, desaparecido actualmente, todos os outros podem ser visitados no Museu Grão Vasco, em Viseu.
A Grão Vasco agradecemos um portfolio muito rico daquele que foi o Renascimento português, e, por isso, expomos, aqui, algumas das suas obras:S. Pedro é a figura central, chefe da Igreja, sentado num magnifico trono ao estilo renascentista. Os suas vestes são ricamente ornamentadas e muito pesadas. Esta obra tem um realismo patente soberbo e o olhar de S. Pedro para o absoluto acentua a qualidade desta obra; no Calvário é possível detectar três sentimentos diferentes: a dor, a folia e alheamento. À direita de Cristo, encontra-se o Mau Ladrão, conduzindo o nosso olhar para o suicídio de Judas, que está a libertar a espírito maligno. Por sua vez, à esquerda do mesmo vemos a chegar José de Arimateia com uma escada, carregando a autorização de sepultar Jesus Cristo. No chão, ao pé da cruz está uma tíbia, uma caveira e uma costela tradicionalmente pertencente a Adão; na obra Assunção da Virgem, que pode ser vista no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa, temos como figura central a Virgem, de rosto jovem e sereno, com tecidos leves e uma fita que lhe fixa a cintura.
São quatro os anjos que amparam o manto de Maria e os restantes estão a tocar música. Maria está a ascender. Esta obra é rica no drapeado das roupas da Virgem e dos Anjos, o que confere movimento;na obra S. Sebastião, o corpo de S. Sebastião é representado atado a uma coluna de mármore, pelas mãos e pelos pés, como Cristo na Cruz, com uma corda que não o prende completamente, pois o algoz ainda está a terminar a função quando os arqueiros começam a disparar as setas. Os nós das cordas são feitos cuidadosamente para não magoar o mártir. Estamos perante a acção ainda a decorrer, não é um acto terminado. S. Sebastião encontra-se nu, apenas coberto por um pano igual ao de Cristo na Cruz , deixando a sua roupa espalhadas pelo chão, à medida que foi sendo despido, como símbolo de abandono da vida terrestre repleta de injustiça. Podemos encontrar, ainda, um marco da nudez na perna esquerda do carrasco, na visibilidade da roupa interior e no lenço atado à cabeça.
No grupo de arqueiros vemos que alguns já estão disparar contra o corpo nu do santo e outro encontra-se a armar a sua besta. O rosto de S. Sebastião não mostra o sofrimento do seu martírio, tendo apenas o corpo um pouco contorcido. O seu olhar alcança o céu e ignora todos aqueles que estão à sua volta a fazer-lhe mal. No céu azul ponteado por nuvens brancas e cinzentas vemos um anjo a chegar banhado pela luz do dia e traz um manto que o cobre totalmente de cor alaranjada, cor da confiança, da fé e da constância. O anjo traz consigo a palma, atributo dos santos mártires, reconhecível facilmente na sua iconografia.
O céu é símbolo da paz conseguida após a morte e só é alcançada por aqueles que usaram a sua vida em benefício de outrem e quando venceram provas limites, entrando num estado de consciência superior. O azul do céu é a bondade, lealdade, glória e caridade. Atrás da acção principal, o martírio de S. Sebastião, conseguimos ver um caminho que leva, possivelmente, à cidade, onde se encontra um grupo de pessoas a conversar. Aqui, o caminho pode ser sinal de progresso individual, ascensão para o superior. Longe da cidade é possível avistar outra povoação retratada com menor minúcia.
Quando consultamos a biografia de Vasco Fernandes, o nome Gaspar Vaz está, incontornavelmente, associado a este devido à forte influência que Vaz sofreu do pintor. Gaspar Vaz foi um assistente do pintor régio Jorge Afonso , trabalhando na oficina deste em Lisboa em 1514-15, onde adquiriu a sua formação, e um pintor que residiu em Viseu desde 1522 até 1568. Não se sabe muito sobre este artista. Provavelmente nasceu em 1490, casou duas vezes, primeiro com Isabel Lopes, e depois com Maria Lopes, teve pelo menos sete filhos (Jerónimo, António Manuel, Isabel, Maria Tavares e Catarina Lopes). Não é esclarecedora a forma como Gaspar Vaz contactou com Vasco Fernandes, pois há duas situações possíveis: a estadia de Gaspar Vaz em Viseu (possivelmente discípulo de Vasco Fernandes na oficina de Lisboa) e a entrada de Grão Vasco na oficina de Jorge Afonso em 1515.
Vasco Fernandes, mais popularizado por Grão Vasco, foi um pintor renascentista durante o reinado de D. Manuel I, e o seu sucessor D. João III. Em Viseu, morou e teve uma oficina, contudo não se sabe com quem aprendeu a pintar nem quando surgiu a iniciativa de assinar as suas obras e, por isso, vemos surgir muitos historiadores tentarem completar a história de um artista tão apreciado não só pelo seu talento, mas também pela tentativa de inovação de um Portugal à margem de uma Europa «revolucionária» no campo das artes.