O convergir da arte com a religião
Como era de se prever, a Reforma Gregoriana não foi bem aceite pelos monarcas e, principalmente, por parte das ordens monásticas, nomeadamente, a ordem de Cister, fundada por Robert Molesme, em 1098, que se separou de Cluny. Cister não tinha como pretensão inovar, mas voltar às tradições antigas da regra de S. Bento. Os monges cistercienses levaram o voto de pobreza e modéstia ao extremo, optando por viver em lugares despovoados, com uma alimentação elementar, usando uma vestimenta simples e repousando em dormitórios sem qualquer conforto. O trabalho durante o dia era a principal actividade, ao contrário do que acontecia em Cluny.
Embora os monges clunisinos fossem beneditinos, estes tinham uma organização monástica muito peculiar e original para a época. A regra de São Bento instituiu um equilíbrio na vida dos mosteiros: quatro horas para a leitura, três horas e meia para a liturgia e seis horas de trabalho, favorecendo deste modo este último aspecto da vida monástica, ao contrário de Cluny, que consagrava o dia do monge, sobretudo, para a liturgia, ofícios e oração, desvalorizando o trabalho manual e consagrando uma vida total de dedicação a Deus.
A nível artístico, a Reforma Gregoriana retoma a arquitectura do período paleocristão, como a planta basilical. É uma arquitectura que pretende receber multidões de peregrinos que vinham adorar as relíquias de santos, normalmente patenteadas em capelas radiantes. Os fiéis circulavam por uma nave lateral, atravessavam o transepto, percorriam o deambulatório e prestavam culto às relíquias nas absidíolas, saindo pela outra nave lateral, sem perturbar a liturgia a ocorrer na nave central.
A igreja de Cluny é a arquitectura por excelência que representa a evolução da Igreja, tanto a nível económico, social e, sobretudo, político. A igreja possuía 5 naves, 2 transeptos e uma capela-mor com várias capelas radiantes. Contudo, a igreja de Cluny não chegou aos nossos dias, tendo sido destruída em 1811, pelos movimentos anti-religiosos que sucederam à Revolução francesa, restando apenas ruínas do transepto e o campanário octogonal.
A formação da arquitectura está directamente ligada ao desenvolvimento da escultura monumental dos portais, das colunas e dos capitéis. A escultura mostrava aos fiéis, através de programas iconográficos, o caminho a seguir - a fé, que estava a cima de qualquer pensamento racional. A arte falava das verdades eternas da fé e da esperança da vida para além da morte. Era pela fé que as pessoas alcançavam o “lugar no céu”. Não podemos esquecer que estamos a falar de pessoas que trabalhavam arduamente, e a fé ajudava a superar as dificuldades de uma vida triste e a ter esperança de uma vida para além da morte.
Foi ao Papa Gregório VII que ficou a dever-se a consolidação do poder da Igreja de Roma. A reforma empreendida por este Papa não só moralizou os costumes e a actuação dos clérigos como proclamou a supremacia absoluta do papado. Como máximo representante de Deus, o Papa considerou-se detentor de um estatuto superior ao do monarca e do imperador do Sacro Império. Embora com algum descontentamento, o reforço da autoridade da Igreja foi conseguido no século XII, tornando-se na instituição mais poderosa do Ocidente: tem um centro reconhecido, Roma, um chefe supremo, o Papa, possui meios humanos (um numeroso número de clérigos) e materiais (cobrança da dízima – um décimo de todas as colheitas) e, por fim, rege-se por um código de leis próprias, o Direito Canónico, distinguindo-os da restante população.