Ártemis, a arte das suas lendas
Era uma das das três virgens do Olimpo, defensora da virgindade e da maternidade, mas contra o casamento e o amor, e, por isso, também designada de parthenos. Era adorada pelas futuras mães como protectora dos partos.
Esta deusa podia assumir várias personagens: Selene, no Céu, Ártemis, na Terra, e Hécate, nos Infernos. Inerente a esta deusa estava associado um lado bom, deusa mãe, protectora da fertilidade, e um lado mau, deusa bárbara, cruel, devota de sacrifícios e, sobretudo, vingativa, castigando com a morte quem ousasse insultá-la. As flechas eram marcos da sua morte, contudo, nem sempre eram usadas para fazer mal, pois quando uma mulher morria sem sofrimento prolongado associava-se a morte rápida às suas setas.
Protectora dos animais selvagens tinha preferência por um animal, a corça. Estranhamente, no seu culto eram sacrificados animais com muita crueldade. Um dos seus apelidos é Elaphêbolos, a que persegue corças e veados, e, para lhe prestar homenagem, era realizado em Atenas o festival das Elafebólias, onde caçavam veados.
Iconograficamente, Ártemis era representada jovem e e forte, com uma túnica curta, rodeada de animais selvagens, de arco e flecha no seu poder, seguida da sua matilha e ninfas. Também podia ser representada vestindo peles de animais.
Uma das muitas lendas da deusa conta que Oríon, o caçador Gigante, apaixonou-se pela deusa e, um certo dia, tentou um gesto muito atrevido. O castigo da deusa casta não tardou e das profundezas da terra surgiu um escorpião, que, com uma picada, matou o caçador. Porém, há outra versão da lenda, que conta que Ártemis teria ficado enamorada pelo caçador, um amor impossível, pois a deusa era casta. Com a ajuda do seu irmão, segundo esta versão, terá morto Oríon.
Similarmente, Actéon desafiou a deusa ao vê-la banhar-se num abrigo escondido à vista de todos. Era aqui que ela costumava banhar-se e repousar após caçada. Quando as deusas se aperceberam da presença do neto de Cadmo, cortaram os seios e esconderam com os seus corpos o corpo da deusa Ártemis. Contudo, o sacrifício das ninfas não afastou o intruso, pois a deusa destaca-se em beleza. Também Actéon foi castigado. Embora tivesse visto a deusa nua, nunca podia contar a ninguém, sendo transformado pela deusa num veado que saiu daquele lugar a fugir.
A lenda mais conhecida ligada à deusa Ártemis é a de Agamémnon, que após juntar as forças gregas foi buscar Helena, mulher de Menelau, seu irmão, que tinha fugido de Tróia com Páris.
No casamento de Peteu e Tétis, pais de Aquiles, compareceram todos os deuses, excepto a deusa da discórdia, Éris, que não tinha sido convidada. Rejeitada, esta decide plantar a discórida entre as deusas Hera, Afrodite e Atena. De forma invisivel, Éris, deixa em cima da mesa uma maça dourada com a inscrição «À mais bela». Coube a Páris escolher qual das deusas ia receber a maça de ouro. Hera oferece-lhe riqueza e poder, Afrodite a o amor da mulher mais bela do mundo e Atena poder na guerra e sabedoria. A escolha de Páris recai sobre a deusa Afrodite, gozando da sua protecção. Porém, Páris também ganhou a ira das deusas Hera e Atena. Foi numa missão diplomática que conheceu Helena, mulher de Menelau, rei de Esparta. Páris e Helena apaixonam-se e fogem para Tróia. Menelau não se conforma em perder Helena e reúne um exército liderado por Agamémnon, o seu irmão, para resgatá-la.
Para mostrar o seu poder, Agamémnon sacrificou um veado nos bosques da deusa afirmando que nem Ártemis era melhor caçadora que ele. Para castigá-lo, a deusa impediu que os ventos soprassem as velas dos navios dos Aqueus deixando-os imobilizados no porto de Áulide.
Tirésias, o adivinho célebre, percebeu a causa da acalmia dos ventos e contou aos Aqueus que a solução era sacrificar Ifigénia, a mais bonita das filhas de Agamémnon. Para enganar Clitemnestra, mãe de Ifigénia, e trazer a sua filha até ele, o irmão de Manelau mentiu dizendo que esta estava prometida a Aquiles. No entanto, no momento do sacrifício de Ifigénia, Ártemis substituiu esta por uma corça e fez dela sua sacerdotisa. Quando Agamémnon chegou a Mecenas, Clitemnestra, que nunca lhe perdoara por ter sacrificado a sua filha, mata-o na piscina do palácio. Após ter insultado Cassandra, Clitemnestra assassina também esta por ciúmes.
Quando Clitemnestra matou Agamémnon com a ajuda de Egisto, Electra levou Orestes para Fócida, entregando-o a Estrófio, que o criou com o seu filho, Pílades. Mais tarde, Orestes e Electra, irmãos de Ifigénia, com a ajuda de Pílades, resgataram Ifigénia em Táurica (local onde se sacrificavam os estrangeiros), na Crimeia, e levaram-na de volta a Mecenas. A lenda conta-nos ainda que Electra, já em idade adulta do seu irmão, terá pedido a este que matasse Clitemnestra e Egisto.
Na Ilíada, Ártemis reforça a sua vingança sobre Agamémnon, colocando-se do lado dos Troianos, como Apolo, Ares, Leto e Xanto:
«Pois frente a frente contra o soberano Posídon
estava Febo Apolo, com as suas setas apetrechadas de asas;
contra Ares Eniálio estava a deusa, Atena de olhos garços;
contra Hera se posicionou a caçadora de flechas douradas,
Ártemis, a arqueira, irmã do deus que age de longe;
contra Leto se posicionou o forte Auxíliador, Hermes;
e contra Hefesto, o grande rio de fundos redemoinhos,
a que os deuses chamam Xanto, mas os homens, Escamandro.»
Nos santuários da deusa Ártemis fazia-se rituais de passagem da adolescência para a idade adulta. Os jovens deviam se castos como a deusa para obterem a bênção da deusa para o futuro matrimónio.
Concluindo, Ártemis, protectora da caça e do mundo selvagem, era uma divindade casta, possuidora de uma túnica curta, que lhe permitia correr de forma veloz, um arco e flechas, um archote, sessenta ninfas do Oceano,vinte ninfas dos rios, todas as montanhas do mundo e uma cidade, pois, assim, exigiu ao seu pai, Zeus, o grande pai dos Zeus. Como nasceu do ventre da sua mãe Leto sem dor, Ártemis ficou também conhecida como protectora dos partos.