Moeda de Nero
Já em época imperial, parece que este templo só teve as suas portas fechadas em três ocasiões, significando que, apenas em três momentos da sua longa história, Roma conseguiu ter paz em toda a extensão dos seus domínios.
Quem se dedica a estudos ligados à história da humanidade, com o tempo, acaba por perceber que o homem é o mesmo em todas as épocas, na sua essência. A sua vida é orientada para a satisfação das mesmas necessidades básicas, tais como a alimentação e a continuação da espécie. Para tal, há um outro conjunto de necessidades que, embora possam ver as suas caraterísticas alterarem-se, com a evolução humana, continuam a ser aspetos basilares, onde a satisfação das necessidades mais básicas do homem assenta. Obtenção de matérias-primas, descoberta de formas e técnicas de as trabalhar, conhecimento do ambiente em que está inserido, transmissão de conhecimentos, etc., tudo isto contribui para que os indivíduos se sustentem e criem a sua descendência. Estar em paz é, também, uma destas características desejadas para se viver e se construir uma família, com mais tranquilidade e hipóteses de sucesso.
Voltando ao templo de Roma, é perfeitamente compreensível que o governante que conseguisse mandar fechar as suas portas, por realmente ter alcançado a pacificação do território, gozaria de uma grande simpatia e aceitação por parte das populações, pois a sua ação governativa tinha promovido a paz e o bem-estar dos que habitavam sob o seu domínio. Divulgar essa notícia, esse feito grandioso do alcance da paz, era uma excelente manobra de propaganda política – basta lembrar-se que um dos argumentos que se usa para “desculpabilizar” ou mesmo fazer a apologia da ditadura de Salazar, era o facto de a sua diplomacia nos ter mantido fora da 2ª Guerra mundial.
Curiosamente, um dos imperadores mais controversos da história de Roma, Nero, mais conhecido por mandar incendiar a cidade capital do seu império, foi um dos governantes que teve o privilégio de poder mandar fechar as portas do templo de Jano, mostrando, assim, que Roma e as suas províncias estavam em paz. Para propagar essa feliz notícia, Nero serviu-se habilmente de um instrumento que chegava a toda a parte e que disseminaria o feito por todas as classes sociais. Mandou emitir uma moeda de cobre (vulgo Asse) com a sua efígie no verso e a fachada do templo de Jano com as portas fechadas, no reverso. Assim se percebe que o potencial da utilização da moeda como meio de propaganda política era já conhecido e utilizado.
No acervo numismático do Museu Nacional de Arqueologia, há um exemplar desta moeda de Nero, proveniente do sítio arqueológico de Troia de Setúbal. Deparei-me com ele, enquanto procedia à inventariação de parte do tesouro numismático descoberto nessa estação arqueológica. E ter conhecimento de que o império romano gozou de um período de paz, fosse por quanto tempo fosse, sob o reinado de Nero, foi um dos conhecimentos mais surpreendentes para mim.
Ex Panta Spirito
Comentários ( 1 ) recentes
- Rita Gravata
10-09-2012 às 19:52:57Muito bem...:)
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